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O Que é Psicopedagogia

A psicopedagogia não é uma disciplina teórica, é uma prática de intervenção. Esta intervenção aborda o campo de conhecimento e os processos de aprendizagem que se dão num sujeito singular, constituindo-se num sujeito de conhecimento.

A intervenção psicopedagógica visa uma dimensão ampla, devido aos muitos fatores inter-relacionados na problemática do conhecimento e aos fenômenos que emergem num tratamento psicopedagógico.

            A psicopedagogia concentrar-se, num tipo de intervenção que aponte o processo cognitivo e especificamente a singularidade e importância que possui o mecanismo funcional na estruturação do conhecimento.

            Os campos que emergem dos processos de aprendizagem de um sujeito são interdisciplinares.

O que é abordado:

            No contexto escolar, são fundamentais as contribuições das diferentes disciplinas. A nível institucional deve ser feito um trabalho de compreensão das relações, vinculado ao professor, a criança e a família. Que significações na interação da criança dentro da sala, com os colegas, professor e conhecimento.

            Estes processos são de aprimoramento e transformação das formas de ensinar e aprender. O papel do psicopedagogo é permitir que as hipóteses do sujeito se desfaçam, que o processo continue em seu ritmo, que se apresentem os conflitos inerentes a construção do conhecimento, que é um conflito do sujeito que conhece.

            A função da psicopedagogia clínica é compreender a lógica singular que está por trás do comportamento cognitivo do sujeito:

            O espaço clínico é o de ressignificação, da ruptura da certeza, do deslocamento do que estava instalado em nível de significações. O aprender significa, centrações das relações com o objeto. A intervenção psicopedagógica abre um espaço para que desabroche estas significações.

            A função de atender crianças com dificuldades em aprender, tem sido historicamente atribuída à Psicopedagogia. Esta tarefa tem sido desempenhada sustentando-se em diferentes concepções teóricas, que deram lugar as formas de intervenção, que às vezes divergem.

            Não existe uma teoria perfeita. O conhecimento não é acabado, é sempre reformulado a partir de um conhecimento anterior. Existem teorias válidas até o momento para dar conta com argumentação forte dos problemas em questão.

             As teorias são conhecimentos sociais históricos, que servem como boas ferramentas para explicar e intervir nos problemas sociais.

Analisando a história, podemos constatar, que a necessidade de diferenciar e dedar atenção a crianças que não se adaptam por distorções ou desvios de conduta e de aprendizagem, surge paradoxalmente, a partir da criação da instituição Escola, na França, no final do século passado. Esta foi criada para suprir as necessidades da burguesia.

            A distância entre a cultura e a rigidez institucional, instauram as diferenças, que são entendidas como dificuldades, deficiências. A escola não vê as diferenças, ela oculta-as. Colocando as normas de uma classe social para todas as outras. Padronizando-as.

            O atendimento psicopedagógico surge com a demanda social pelo fracasso institucional e social. A partir do encontro do discurso psicológico e das necessidades de “educar” as crianças “não educáveis”, medicando e patologizando-as, quando não se sabe o que fazer com elas.

            As diferentes teorias que sustentam a prática psicopedagógica baseiam se em: Concepção de desenvolvimento intelectual (processos de aprendizagem); Concepção de sujeito (como se constitui); Concepção de objeto de conhecimento (o que é a escrita / o que significa a leitura).

            Podemos, então, delinear o campo de problemas sobre os quais a psicopedagogia exerce sua função, como um campo definido pelos processos de aprendizagem e de aquisição de conhecimento. Suas intervenções se dirigem a prevenção (social e institucional), a atenção clínica de diagnóstico e tratamento, como, também, a construção de estratégias para a transformação das formas de aprender dentro da escola.

A forma de caracterizar nossos problemas depende das teorias referenciadas. Ao mesmo tempo, é a partir dos meus problemas e objetos que recorrerei às explicações conceituais desenvolvidas em minha comunidade científica mais adequadas para sua interpretação.

É na interação dialética entre os marcos teóricos, na investigação e reflexão rigorosa sobre meu objeto de estudo, que será possível construir e reconstruir conceitualizações que legitimem a prática.

A eleição das teorias exige um compromisso com os pressupostos epistemológicos e ontológicos que às sustentam e também uma coerência e consistência epistêmicas entre estes supostos básicos.

O objeto de estudo da Psicopedagogia é o Sujeito de conhecimento. Entendemos o Sujeito como sujeito simbólico, constituído a partir de um Outro que o marca profundamente. No mito se subjetiva, se significa na sua singularidade. Atravessado por estas significações assumirá um lugar para si mesmo e para os outros. É na trama das relações intersubjetivas onde sua aprendizagem tenha sentido, desde onde se significa como sujeito de conhecimento e desde onde significa também do que aprende.

Para poder conhecer a realidade e pensar sobre ela é necessário um sujeito constituído, por outro lado para que os objetos tenham sentido para sua apropriação, é necessário que evoquem algo em relação às inscrições inconscientes.

A relação Sujeito Objeto não é direta, mas está mediada pela estrutura inconsciente. Se conceitualizamos nosso objeto de estudo como Sujeito de Conhecimento, precisamos ter uma profunda compreensão do desenvolvimento cognitivo e dos processos de aprendizagem.

Sem compreender como uma criança aprende, não teremos parâmetros para pensar se esta criança não está bloqueada em seu aprender. Aderimos à teoria explicativa do desenvolvimento intelectual de Jean Piaget e a suas teses do funcionamento psicológico que subjaze aos processos de aprendizagem.  Nos referimos a conceitos centrais da teoria, como o conceito de ação cognitiva, os mecanismos funcionais da adaptação e organização intelectual, a teoria da equilibração.

Seu método psicogenético é um valioso instrumento de indagação das formas singulares de hipótese e interpretação original que o sujeito faz dos objetos e das razões que estão por trás de suas respostas.

Esta teoria postula o desenvolvimento intelectual e os processos de aprendizagem que se produzem no seio de uma interação dialética caracterizada por uma ação psicológica, estruturada e estruturante do real, produtora de significações. É no seio desta interação Sujeito – Objeto de conhecimento que se constrói mutuamente, passando por momentos de relativa estabilidade em ruptura do equilíbrio momentâneo, sendo restabelecido por reformulações e reorganizações superadas, alcançando níveis superiores de organização intelectual, mais estáveis e flexíveis. A relação Sujeito – Objeto não é direta, está mediada pela organização intelectual e sua ação transformadora do real.

Todo sujeito de conhecimento é um sujeito social, constituído de uma história de aprendizagens em função de suas práticas sociais cotidianas. É no seio destas práticas que aprende valores culturais, formas de comportamento verbal, gestual, formas de interação com os outros e com os objetos, estes carregados de “rótulos” sociais. Nas interações cotidianas o sujeito se aproxima de objetos sociais, há uma hierarquização na aquisição de determinados objetos culturais em detrimento de outros, em função do valor e significado social que eles portam nas práticas cotidianas de seu meio sócio- familiar. O social se entrelaça dentro do processo de interações cognitivas, por isso não o influencia de fora, mas se constitui e se modela.

 

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